As bolhas de sabão, na verdade, são bolhas de água// Crédito: Fabian Oefner
A maioria das fotos do suíço Fabian Oefner, 28, parece ter saído de um planeta distante ou de uma lente de microscópio apontada para coisas muito estranhas. Vieram, na verdade, de um estúdio caseiro montando numa fria e pequena cidade Suíça e da mente criativa de um fotógrafo que adora navegar em sites de ciência em busca de inspiração.
“Sempre tive muito interesse em vários campos da ciência, como astronomia, leis da física, a composição da matéria...”, diz Oefner à Galileu. Designer de formação, ele descobriu ainda na faculdade que seu negócio era mesmo fotografar. Depois de estudar muita história da arte no seu curso de graduação e de experimentar bastante com as câmeras, ele conseguiu emprego numa empresa de que produz equipamentos de precisão para fabricantes de carros, satélites, naves espaciais, entre outros produtos de alta tecnologia. Seu trabalho na companhia é técnico, na maioria do tempo: registrar produtos e seu funcionamento.
“Sempre tive muito interesse em vários campos da ciência, como astronomia, leis da física, a composição da matéria...”, diz Oefner à Galileu. Designer de formação, ele descobriu ainda na faculdade que seu negócio era mesmo fotografar. Depois de estudar muita história da arte no seu curso de graduação e de experimentar bastante com as câmeras, ele conseguiu emprego numa empresa de que produz equipamentos de precisão para fabricantes de carros, satélites, naves espaciais, entre outros produtos de alta tecnologia. Seu trabalho na companhia é técnico, na maioria do tempo: registrar produtos e seu funcionamento.
Para dar vazão a seu trabalho artístico, ele montou um estúdio em sua casa, em Suhr, sete vezes maior que o parque do Ibirapuera, com menos 10 mil habitantes – praticamente um vilarejo, a 40 minutos de carro da capital Zurique. Lá, ele passa meses “brincando” em seus projetos artísticos.
“Acho fascinante unir esses dois universos. A arte e a ciência normalmente têm uma abordagem diferente ao olhar o mundo. De um lado, você tem a arte, uma reação emocional ao mundo. Do outro, a ciência , cujos resultados são uma reação racional ao que nos cerca. O que tento fazer é sintetizar essas duas visões opostas. A ideia é que as imagens apelem para o cérebro e o coração de quem as vê, ao mesmo tempo.”
A série Millefiori é um exemplo de como esse “casamento” acontece. Navegando em sites de ciência, Oefner viu o trabalho de um artista japonês chamado Sachiko Kodama, que usava ferrofluido para fazer esculturas. Pesquisando sobre o material, descobriu que tratava-se de um líquido viscoso como um óleo, que assume diferentes formas quando submetido a um campo magnético. O fotógrafo tratou de comprar o ingrediente e alguns imãs poderosos e começou a brincar. Até que teve a idéia de começar a injetar diferentes líquidos em pequenas gotas de ferro fluido, usando uma seringa. Nascia um de seus trabalhos mais interessantes.
O trabalho de pesquisa na busca de materiais para protagonizar as fotos ou para tornar o resultado mais interessante. Em Iridient, Oefner fotografou bolas de sabão. Nada mais fácil de fazer, certo? Nem tanto, se você precisar de bolhas grandes e que demorem um pouco mais para estourar. A solução foi pingar na mistura de água e detergente algumas gotas de xarope de bordo, uma espécie de mel muito popular nos EUA e na Europa, como acompanhamento de panquecas e waffles. “Se você não encontrar isso por ái, pode usar glicerina, que é vendida em farmácias”, ensina Oefner.
As bolhas de sabão, na verdade, são bolhas de água. O sabão não chega a formar bolhas. Ele apenas se espalha ao redor da água. Realmente, se você prestar atenção em uma bolha de sabão contra a luz – ou nas fotos de Iridient - vai perceber cores se mexendo em sua superfície conforme ela voa. O sabão é o componente colorido dessa mistura (a água é incolor, você sabe). Como a água é o que forma a bolha, era preciso lidar com ela. E diminuir a tensão superficial –força de atração entre as moléculas de água que faz ela adquirir um caráter elástico – era o segredo para criar esferas mais duráveis. Ciência a serviço da arte, e da brincadeira de criança.
Algumas descobertas de materiais são muito mais banais. Durante a criação de “Dancing Colors”, Oefner viu que os pigmentos de cor que queria colocar para dançar eram tão pequenos e leves que eles formavam uma nuvem colorida, e não coisas saltitantes, como ele gostaria. A saída foi simples: jogar os pigmentos em cloreto de sódio, o bom e velho sal de cozinha. “Como os grãos do sal eram maiores e mais pesados, as cores pulam de um jeito mais legal.” Nesse caso, o trabalhoso foi limpar tudo ao final. “Os pigmentos têm um grão tão fino que eles entraram em cada cantinho do meu estúdio. Cobri as partes mais sensíveis dos equipmentos, mas mesmo assim passei mais tempo fazendo limpeza do que fotografando.”
Apesar do material simples, esse ensaio precisou de outro investimento tecnológico, usado em outros ensaios. Como era difícil tirar a foto no exato momento em que os pigmentos pulam, ele automatizou a coisa. Ele deixou o estúdio no escuro e fez fotos de longa exposição – a foto só se “desenha” quando há luz. E como acender a luz na hora certa? Usando uma tremenda engenhoca. Oefner foi a uma loja de eletrônica e comprou um dispositivo que conecta um microfone aos flashes. Quando o microfone recebe uma onda sonora, envia um sinal elétrico para o circuito, que por sua vez usa esse gatilho para acender o flash. Tudo isso só funciona graças a outro macete, este bem mais simples: o que faz os pigmentos pularem é a vibração de uma caixa de som que funciona como suporte. Ou seja, Oefner deu um jeito de fazer o ruído dispara o salto dos seus “atores’ e o flash ao mesmo tempo.
A engenhoca também foi usada em outros dois ensaios mostrados no Foco desse mês: Shootout e Vanishing Beauty. No primeiro, o som que dispara o flash era o da pistola de ar comprimido que dispara contra a lata de Coca-Cola. Em Vanishing Beauty, era o próprio som do balão de festa estourando.
“No final, parece mais fácil fazer essas fotos do que realmente é. As 10 imagens que afinal compõem uma série são talvez 1% do total de imagens que faço em cada projeto”, diz Oefner. “Mas em alguns casos, acho que vale o esforço.”
Todo o trabalho pessoal de Oefner é recente e ainda não entrou no circuito de arte. Ele mesmo negocia impressões de suas fotos para quem se interessa por comprá-las e financia os projetos pessoais com o dinheiro de seu trabalho comercial. O maior reconhecimento que ele teve até o momento foi uma premiação de um fabricante de câmeras fotográficas. Mas, agora que você está vendo essas fotos na Galileu, talvez isso comece a mudar.
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